06 setembro 2008

COGUMELO

Eu gosto desse texto, ele me faz ver que vale a pena expor nossos sentimentos, como fiz no vídeo anterior "FOLHAS SECAS PELO CHÃO", e em outros, usando um pouco as palavras dos poetas que dizem melhor, porque se calar parece mais sensato, confortável, e atende ao nosso lado contraditório de muitas vezes achar que nos expondo, podemos ter uma sensação de perda, de sonho, de espaço invadido, amor próprio ferido. Mas aqui no outono da vida o que me interessa mesmo é SER, vivenciar cada momento desse caminhar, não cabem máscaras, e temos mesmo que nos entender com nossos EUS mais profundos e verdadeiros. E vale sonhar, porque nas atitudes já nos fazemos presentes na realidade do dia-a-dia, e que também será melhor quanto mais trocarmos idéias e enriquecermos o que temos de melhor. Vamos ao texto:

“Eu conheço um planeta onde há um homem vermelho, quase roxo. Nunca cheirou uma flor. Nunca olhou uma estrela. Nunca amou ninguém. Nunca fez outra coisa senão somas. E o dia todo repete como tu: “Eu sou um homem sério! Eu sou um homem sério!” e isso o faz inchar-se de orgulho. Mas ele não é um homem; é um cogumelo!” Trecho do livro O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint Exupéry Fiquei refletindo, depois de ler esta brilhante afirmação de Saint Exupéry, sobre ser uma pessoa ou um cogumelo... Pensei que ser um cogumelo faz jus ao sentimento de solidão característico dos últimos tempos. Temos experimentado uma combinação explosiva entre insegurança e medo, causando-nos uma solidão modificada, diferente daquela que sentíamos há algumas décadas, especialmente por ser tão contraditória a dinâmica atual do mundo, que nos proporciona tantas formas de encontros. A tecnologia facilita, aproxima, encurta distâncias, oferece inúmeras opções para se “conhecer” pessoas. Entretanto, o fato é que estamos cada vez mais nos sentindo sós, descartados de um todo que outrora confortava, acolhia, preenchia qualquer súbita sensação de vazio. Sim, é verdade, somos singulares por natureza. Uma pessoa, uma vida. Somos indivíduos por definição. Há que se considerar, portanto, a magia e a importância existentes na condição de ‘ímpar’ que nos identifica. Isto é indiscutível! A nossa forma só compõe um desenho realmente válido quando encaixada a outras formas. Mas, para tanto, precisamos nos envolver e nos permitir, considerar possível a entrega, apesar de sentimentos como insegurança e medo. Temos misturado e confundido dois termos que são, na verdade, antagônicos: amor-próprio e egoísmo. Temos acreditado - catastroficamente - que, ao desenvolvermos uma boa auto-estima e respeitarmos nossos desejos, deveremos - quase como numa conta matemática - desconsiderar o outro. Como se numa relação houvesse espaço para somente um ser respeitado e, consequentemente, o outro ser desrespeitado. Temos agido equivocadamente por apostarmos que em detrimento do que “o outro é”, deve prevalecer sempre o que “eu sou”. Primeiro a minha vontade. Depois, se for cabível, dou atenção ao que o outro deseja. E se ele não aceitar que assim seja, então que ‘vá às favas’. Temos sido ingênuos o bastante para acreditar que se o outro não nos aceita como somos é porque não gosta de nós o suficiente e, portanto, não merece estar ao nosso lado e desfrutar de nossa companhia. Ledo engano. Relações que valem a pena são aquelas onde há espaço para todos serem respeitados, porque existe consciência e disponibilidade para conhecer a si mesmo e ao outro. Mas temos perdido a capacidade de acolher as diferenças, de aceitar aquilo que nos obriga a nos olhar de frente, sem as máscaras. Não queremos rever nossas escolhas. Não queremos mudar para nos adaptar. A partir das teorias atuais, mudar pelo outro não faz parte das regras. Não combina com amor-próprio. No entanto, por conta da inflexibilidade e da distorção sobre o que venha a ser o tal do amor-próprio, estamos todos morrendo de solidão. É... eu sei que não dá para ser profundo com todo mundo. Não teríamos tempo nem disponibilidade interna para tanto. Somos naturalmente seletivos. Por isso, escolhemos (ou pelo menos deveríamos escolher) certas pessoas para quem nos entregamos a ponto de nos mostrar sem máscaras, sem meias-palavras, sem pensar tanto em como devemos nos comportar e o que dizer ou em quem ser a cada instante. São nessas relações que eu invisto, pois é justamente onde recarrego minhas energias. É esse tipo de encontro que me faz sentir integrante, porque mais do que ser adequada, nelas eu sou autêntica, genuína, inteira e, portanto, brilhante. Chega de ser cogumelo!
Rosana Braga.
E, por oportuno, vale lembrar as belas palavras de QUINTANA:

Se as coisas são inatingíveis... ora! não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora a mágica presença das estrelas! (Mario Quintana).

2 comentários:

heli disse...

Ney.

O texto que você colocou parece ser de Rosana Braga.
De uma olhada neste endereço:
http://www.farofadigital.com.br/comportamento_cogumelo.htm

ney disse...

Valeu, Heli, é mesmo da Rosana Braga, que tem muitos textos interessantes, programas na TV, e é uma pessoa iluminada.