10 setembro 2008

DIFÍCIL COMEÇO

Para qualquer cidade que se vá, não sendo a passeio e turismo, as maiores que sejam, mais belas e desenvolvidas, sempre haverá um difícil começo, quando estamos só e não conhecemos ninguém, e deixamos para trás nossas raízes, família, amigos, amores, lugares onde crescemos e nos dizem tudo em cada detalhe.
E mesmo que se esteja na juventude, em pleno espírito de aventura e na busca de um espaço e uma realização profissional, haverá esse impacto de uma nova realidade, onde teremos que resolver todas as nossas possíveis dificuldades de sobrevivência, casa, comida, roupa lavada, e harmonizar com a nova vida.
Ao menos comigo foi assim, mesmo já tendo prestado o serviço militar, o que me obrigou a afastar um pouco do ambiente familiar, mas no quartel se tem casa e comida, funções determinadas, voltadas para a disciplina, defesa da Pátria, e o sobreviver numa outra cidade tudo vai depender de nossas atitudes.
E existem outras dificuldades, do nosso jeito de ser, como bem disse Caetano na bela música SAMPA... "Quando eu te encarei frente a frente, não vi o meu rosto... É que Narciso acha feio o que não é espelho, e a mente apavora o que ainda não é mesmo velho, nada do que não era antes quando não somos mutantes... E foste um difícil começo, afasto o que não conheço, e quem vende outro sonho feliz de cidade, aprende depressa a chamar-te de realidade, e podemos curtir numa boa...". Então eu falo assim desse meu começo, do jeito que sei dizer:

DIFÍCIL COMEÇO

Fim do dia.
Do expediente
Do trabalho
Da convivência
A alma ficava vazia

Todos saíam
Para suas casas
Famílias
Namoradas
Seus lares
Moradias

Eu ia pelas ruas
Esquinas, viadutos.
Garoa e vento frio.
Noites maiores que dias
Em momentos de solidão

Luzes, semáforos.
Sirenes, faróis.
madrugadas
Ruas vazias, vadias.
Letreiros luminosos.
Alegrias em fantasias.

Perdido na multidão
Só conhecia a dona da pensão
Que fazia a gosto a refeição
Algo acolhedor, familiar.

Prédios, concreto.
Trabalho, produção.
Nem via a lua e as estrelas
No cinema distraía a vida
As lembranças da família
Dos amigos, da namorada.

Dias, semanas.
Meses e anos
Voltar eu não conseguia
Tudo tem seu tempo
Esperar e harmonizar.

Criei identidades
Amizades.
Entendi a alma da cidade
Seu jeito de ser e cativar

É sempre um “difícil começo”
Viver uma nova realidade
Seja em qualquer cidade
Temos nossas raízes
Amores
E deles sentimos saudades.

Superei, cresci.
Venci
Conquistei espaços.
Passados 5 anos
Chegou o dia
Volto a minha cidade.

Ney.

2 comentários:

heli disse...

Que coisa bonita de se ver, você transformou em versos a sua experiência de vida!!!

Parabéns ao ney poeta!!!

ney disse...

Valeu! Eu não sei dizer como os poetas, mas um dia eu aprendo. Caramba! 5 anos é muito tempo na vida da gente, eu já estava me acostumando e quase ficando por lá. Lá e cá é bom, questão de raízes.