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"Versos A Uma Árvore"
Naquela árvore vejo o meu próprio destino:
- brota da terra, cresce, reverdece e enflora!
ontem, - pequeno arbusto humilde e pequenino,
tronco a elevar-se altivo pelo espaço, - agora...
Naquela árvore vejo a minha própria vida,
veio do mesmo pó de onde todos brotamos,
e no esforço da luta e na ânsia da subida
desconjuntou seus galhos... retorceu seus ramos! ...
Em mim, o homem rasgou minha alma e a encheu talvez
de feridas mortais e eternas cicatrizes
nela, - o tronco marcou, quebrou seus ramos, fez
talhos por onde foge a seiva das raízes...
Naquela árvore humana um destino se encerra:
para viver: - lutou! ... para subir: - sofreu!...
E transformou em flor e em fruto o húmus da terra,
e indiferente, ao mundo, os ofertou como eu!
Se se cobriu de folhas, de botões surgidos
à flor da fronde assim como pingos de aurora,
- por dentro, os galhos tortos, rudes, retorcidos,
são as ânsias de dor que ninguém vê por fora...
Por consolo, - quem sabe? - a Natureza deu
ao peito de alguns homens coração de poeta,
assim como as ramagens do arvoredo, encheu
com a música das aves, gorjeante e inquieta...
Naquela árvore, vejo a minha própria vida;
no ser: - a mesma seiva bruta e dolorida;
na face: - a fronde em flor sob a luz e os orvalhos...
E o seu consolo e o meu, e o consolo da gente,
são os pássaros a encher de sons alegremente
as dores e as torturas íntimas dos galhos! ...
(Poema de J. G. de Araujo Jorge,do livro " AMO ", 1938)
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