15 junho 2008

RETRATOS DA VIDA - LES UNS ET LES AUTRES - BOLERO (clique aqui e veja o trailer)

Um bom filme vale ver muitas vezes. E hoje peguei na locadora RETRATOS DA VIDA, em frances LES UNS ET LES AUTRES, e nos EUA se chamou BOLERO, porque começa e acaba ao som do BOLERO DE RAVEL, que tem tudo a ver com o filme. Um grande elenco de estrelas internacionais na bela obra do diretor Claude Lelouch. Em 1980 quando foi lançado aqui no Brasil ficou um ano nos cinemas.
Enquanto o mundo batalhava entre si durante a Segunda Guerra Mundial, quatro famílias de distintos países - EUA, França, Alemanha e Rússia - se cruzam em circunstâncias históricas e se unem através da dança e do drama, e vão os caminhos da vida passando por 4 gerações mostrando todos esses encontros e desencontros, sonhos e realidades, alegrias e tristezas.
Diz bem esse comentário do Carlos Holbein:

"Dizem que o melhor aliado do homem é a “memória”, porquanto é o único patrimônio verdadeiramente intransferível. Tudo o mais é efêmero e não redime o coração de quem quer que seja. Concordo. Plenamente!
Muitas vezes, observa-se que o destino de uma criatura sofre bruscas mudanças e subverte os caminhos do coração. Ainda que seja injusto, convenhamos, são incontáveis os casos em que a “roda da vida” manipulou os acontecimentos. Seja atropelando sentimentos, seja cerceando talentos ou mesmo modificando o rumo de algumas histórias.
Vimos isso, por exemplo, no brilhante filme de Claude Lelouch, Bolero (Les uns et les autres), em que saga de quatro gerações é dramaticamente interrompida. O título do filme, dado aqui no Brasil, bem que apontava: Retratos da vida. Sim, meus amigos, são os impiedosos fragmentos do cotidiano. E o que se percebe é que o destino continua, teimosamente, impedindo que outros tantos caminhos possam ser “revelados”.
Sabemos que o ser humano é detentor de fortes contradições e que a sua busca por uma vida melhor nem sempre logrou êxito. Mário Quintana, o nosso encantado poeta, declarou um dia: Ah! se exigirem documentos aí do “Outro Lado”, extintas as outras memórias, só poderei mostrar-lhes as folhas soltas de um álbum de imagens: aqui uma pedra lisa, ali um cavalo parado ou uma nuvem perdida, perdida... Meu Deus, que modo estranho de contar uma vida!
Pois é. Eu também tenho me perguntado: que “fotografias” levarei desta vida? Que histórias terei para contar ainda “desse lado”? Isso porque o percurso da gente é tão repleto de causos que, no fim das contas, o que nos cabe mesmo é ser bons contadores de histórias. Apenas isso!
Bem, eu não posso dizer se terei sucesso ou não, uma vez que ainda estou plantando os acontecimentos. O certo é que tenho procurado, ao menos, não deixar que as fotografias adquiram um insípido “amarelado” e se “desgarrem” do meu álbum. Se eu conseguir isso, meus amigos, já será uma vitória...
Contudo, não é lá uma tarefa muito fácil. Isto porque as nossas emoções estão presentes e, ironicamente, acabam dificultando o processo. Por sorte, Fernando Pessoa nos deixou um importante legado: ...nem sempre consigo sentir o que sei que devo sentir. / O meu pensamento só muito devagar atravessa o rio a nado / porque lhe pesa o fato que os homens o fizeram usar. / Procuro despir-me do que aprendi, / procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram, / e raspar a tinta com que me pintaram os sentidos.
De fato, eu tenho que reconhecer que o meu olhar, ultimamente, tem se voltado muito para o “porão” da memória. Justifico: é que de lá eu venho extraindo lembranças e lições do que já vivi. Tentando, com isso, dar mais significado aos inúmeros episódios e, em última análise, sentido a vida!
Sei também que em diversas ocasiões eu agi como na canção: ...dei pra sonhar / fiz tantos desvarios / rompi com o mundo / queimei meus navios. Mas, tudo bem... Faz parte do jogo da vida. Afinal, são os esconderijos da memória. São os nossos sonhos brincando no labirinto. Daí, então, eu reafirmar: que maravilha é viver! Mesmo que o amor, por vezes, se desencontre, ainda assim ele sempre será bem acolhido. Mesmo que a mulher amada proclame sem piedade que na bagunça do teu coração / meu sangue errou de veia e se perdeu... - eu continuarei acreditando que o afeto mora ao lado.
O que sei é que se a gente pudesse incorporar um pouco mais o que as músicas dizem, ah!, como seria bom... Por certo, elas nos diriam com orgulho: Se eu pudesse por um dia / esse amor, essa alegria / eu te juro, te daria / se eu pudesse esse amor todo dia. / Chega perto, vem sem medo. / Chega mais, meu coração. / Vem ouvir esse segredo / escondido num choro-canção.
Ah, se a vida tivesse mais poesia! O mundo seguramente seria mais leve. E os ventos que correm por esse mundo, mundo, vasto mundo, cortando os caminhos da gente, soprariam em nossos ouvidos outro desafio de Drummond: Ninguém me fará calar, / gritarei sempre que se abafe um prazer, / apontarei os desanimados, / negociarei em voz baixa com os conspiradores, / transmitirei recados que não se ousa dar nem receber, / serei, no circo, o palhaço, / serei médico, faca de pão, remédio, toalha, / serei as coisas mais ordinárias e humanas, e também as excepcionais...
O que espero desta vida, minha gente, é poder celebrar o amor sem arrependimento e sem pudor. É poder pular a “fogueira das fantasias” sem medo de me queimar."

E veja o final do filme nesse belo vídeo:
http://www.youtube.com/watch?v=5_XdRa2oMR0

Nenhum comentário: