A sedução antecede a visão. Você se lembra daquele diálogo entre o Pequeno Príncipe e a raposa? A raposa queria que o Pequeno Príncipe a cativasse. Mas ele não sabia o que era cativar. Aí ela ensinou: eu me assento aqui e você se assenta lá, longe de mim. Nós nos olhamos e ficamos com uma vontade de chegar mais perto. No dia seguinte nos assentamos mais perto... E assim vai indo, até que nos assentamos juntos. Quando isso acontecer eu estarei cativada. E eu o verei então de uma forma como ninguém mais o vê.
Percebi que é preciso conhecer a filosofia de Platão para se ver bem. Platão, quando queria explicar aquilo que não podia ser explicado, inventava um mito. Um dos seus inexplicáveis era a experiência do belo. Por que achamos uma coisa bela? Aí ele inventou que antes de nascer todos nós vivemos num reino espiritual onde se encontram todas as coisas belas do universo. Quando nascemos nos esquecemos delas. Mas não de todo. Elas permanecem adormecidas, tal como na estória da Bela Adormecida, à espera do beijo que as fará acordar. A vida inteira é um esforço para nos lembrar... Vez por outra ganhamos o beijo: vemos uma coisa bela e ficamos encantados. Por vezes, apaixonados. Isso quer dizer que fomos tocados por aquela beleza esquecida que um dia nós vimos.
Fernando Pessoa pensava assim também. Aquela sua declaração de amor: “Quando te vi amei-te já muito antes, tornei a encontra-te quando te achei...” Então, a amada já estava dentro da sua alma, à espera... O encontro foi, na realidade, um re-encontro.
Essa coisa bela que nos encanta, entretanto, não é a beleza pura que existe naquele reino espiritual. É apenas o seu breve cintilar, seu reflexo nas águas do tempo. O mundo está cheio de cintilações da eternidade.
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