25 abril 2009

DESPERTAR É PRECISO...

"Na primeira noite
Eles aproximam-se
E colhem uma flor
Do nosso jardim
E não dizemos nada.
Na segunda noite
Já não se escondem;
Pisam as flores,
Matam o nosso cão,
E não dizemos nada.
Até que um dia
O mais frágil deles
Entra sozinho em nossa casa,
Rouba-nos a lua e,
Conhecendo o nosso medo,
Arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada,
Já não podemos dizer nada".

Vladimir Maiakóvski

2 comentários:

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Pois é, Heli,

Assim, mansamente, começam as grandes opressões...

Beijos

heli disse...

Dulce.
Encontrei na net uma análise do texto.É meio longa, mas muito interessante.

Maiakowisky Numa Análise Transcendental

"Há mais profundidade neste texto do que se percebe em uma primeira apreciação; numa análise política, que imagino eu, tenha servido de inspiração a Maiakowisky.

Ele nos fala ao coração e à mente, convidando-nos a uma reflexão profunda sobre nossa conduta diante da vida; dos nossos enfrentamentos, nossos receios, nossos recalques, nossa fuga, onde parar, até onde devemos permanecer calados, quando é hora de dizer: basta, aonde nossa inércia nos levará...

Mas podemos ir além e procurar outros sentidos subjetivos. Se não vejamos:

Na primeira noite... Iniciamos nossa vida. Somos inexperientes...

Eles se aproximam... Não só o inimigo comum do dia-a-dia, do aqui e agora, mas também os vícios que temos de combater... que trouxemos conosco pela imaturidade do Espírito.

E colhem uma flor... O primeiro teste. O conhecimento de nós mesmos; de nossas reações; oportunidade de verificar como lidamos com as perdas.

Do nosso jardim... de nossa vida... do nosso viver...

E não dizemos nada... Não percebemos pela nossa própria imaturidade ou porque quisemos ignorar. Sair da inércia, material ou espiritual, é muito difícil; sentimo-nos impotentes, decidimos cruzar os braços.

Na segunda noite... a progressão dos dias; uma segunda oportunidade; vamos deixando para trás a infância; já não somos tão imaturos.

Pisam as flores... Nossas reações diante das infelicidades. Como reagiremos? Pisaremos também as flores alheias ou lutaremos para preservar o que é nosso, inibindo, sem violência, o nosso agressor?

Matam nosso cão... Pela nossa indiferença, nossa cegueira, as dores se tornam maiores, mais significativas...

E não dizemos nada... Acostumamo-nos a vida vazia; medíocre. Acomodamo-nos. Psicoadaptamos nossa covardia. Poderíamos lutar a boa luta, mas nos resignamos na qualidade de perdedores.

Até que um dia... Sempre chega a hora do teste final...

O mais frágil deles... Aquele que não era tão grande, mas por isso mesmo, perigoso. Como o rancor, por exemplo.

Entra em nossa casa... Não tivemos o bom senso de vigiar-nos; colocar trancas contra o inimigo. “Vigiai e orai”.

Rouba-nos a lua e,... Os inimigos, ou as situações, não nos poupam. Tentam aniquilar nossos sonhos...nossa paz.... Os vendavais são implacáveis, mas fortalecem a árvore frágil. Não sabemos aproveitar os “tormentos” da natureza para o fortalecimento.

Conhecendo nosso medo... Nossa covardia... Nossa indisposição para a luta...para a busca do equilíbrio... para a religação com o Criador. Nossa alma se aquieta, impotente, chorosa. Esquecemo-nos de que foi Jesus quem disse: sois deuses!

Arranca-nos a voz da garganta... Sucumbimos ante as provações. Somos incapazes de uma reação que nos salvaria. Deixamos as raízes do mal, da indiferença, da inércia, aprofundarem-se demais.

E porque não dissemos nada... Acovardamo-nos. Apequenamo-nos diante das necessárias lutas. Não reagimos às forças trevosas.

Já não podemos dizer nada... A montanha de dissabores; de desencontros; de infelicidades não combatidas nos emudece para sempre. A desencarnação chegou e nos encontrou de mãos vazias, de alma carente..."


Lourdes Carolina Gagete

http://www.feal.com.br/colunistas.php?art_id=12&col_id=37