12 agosto 2009

chove lá fora...

A chuva que caiu por toda a noite e que transforma o dia que amanhece todinho em cinza, trazendo uma certa nostalgia a minha alma, traz também a poesia de Fernando Pessoa a minha memória...
Divido-a com vocês.

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TRAPO

(Alvaro de Campos)


O dia deu em chuvoso.

A manhã, contudo, esteve bastante azul.

O dia deu em chuvoso.
Desde manhã eu estava um pouco triste.

Antecipação! Tristeza? Coisa nenhuma?
Não sei: já ao acordar estava triste.
O dia deu em chuvoso.

Bem sei, a penumbra da chuva é elegante.
Bem sei: o sol oprime, por ser tão ordinário, um elegante.
Bem sei: ser susceptível às mudanças de luz não é elegante.
Mas quem disse ao sol ou aos outros que eu quero ser elegante?
Dêem-me o céu azul e o sol visível.
Névoa, chuvas, escuros — isso tenho eu em mim.

Hoje quero só sossego.
Até amaria o lar, desde que o não tivesse.
Chego a ter sono de vontade de ter sossego.
Não exageremos!
Tenho efetivamente sono, sem explicação.
O dia deu em chuvoso.

Carinhos? Afetos? São memórias...
É preciso ser-se criança para os ter...
Minha madrugada perdida, meu céu azul verdadeiro!
O dia deu em chuvoso.

Boca bonita da filha do caseiro,
Polpa de fruta de um coração por comer...
Quando foi isso? Não sei...
No azul da manhã...

O dia deu em chuvoso.


2 comentários:

heli disse...

Dulce.
Grande Poeta!!
Sempre com suas palavras a tocar lá no fundo da nossa alma.

Aqui estamos com um belo dia azul!!!
Tenha um belo dia, mesmo que ele esteja cinzento do "lado de fora".
bjs

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Heli

Obrigada, minha amiga.
A chuva parou, o dia continua cinza, mas o sol brilha na alma.
beijos