O dia amanheceu claro, mas já está encoberto, indicando talvez chuva ainda pela manhã. Confesso que não tenho a menor queda para a meteorologia, quase nunca acerto nas minhas “previsões”. E pensando nisso acabo me lembrando de meu marido, nas manhãs de nossos primeiros anos de casamento, qualquer que fosse a cidade em que estivéssemos vivendo - e nem foram tantas, afinal - mas bastava uns poucos meses no local e ele se tornava um expert em “adivinhar” o tempo... Olhava para o céu, examinava as nuvens, a direção do vento, sentia o cheiro de chuva no ar muito antes dela cair e prognosticava um dia de chuva, um dia de sol. Raramente errava. Eu costumava dizer que ele fizera a escolha errada ao resolver cursar física, que deveria procurar um curso de meteorologia porque ele era realmente bom nisso. Ao aposentar-se, homem afeito aos livros, ao conhecimento, resolveu que voltaria a estudar e sabendo que a USP abrira um curso de meteorologia, nem titubeou. Fez o vestibular, passou, claro, e lá foi ele descobrir o mundo dos cúmulus nimbus, das pressões barométricas, das umidades do ar... E, na medida em que o curso ia avançando, em que ele ia adquirindo conhecimentos e técnicas para avaliar o tempo, para fazer previsões, foi perdendo o sentido natural, a sensibilidade para com as mudanças do tempo e, acreditem ou não, daí para a frente, ele raramente acertava uma previsão... Pois é!... Todo aquele acúmulo de conhecimentos das cartas meteorológicas, dos parâmetros, das técnicas, acabou pesando mais do que o instinto natural do homem que fora criado junto à natureza, absorvendo conhecimentos práticos, quase sempre infalíveis. E brincávamos muito com isso, meus filhos e eu, dizendo a ele que perdêramos o meteorologista competente da família em prol do técnico que precisava de todo um laboratório meteorológico para errar nas previsões. Ele coçava a cabeça, colocava no rosto aquele sorriso tranqüilo e, como bom mineiro que era, apensa dizia: - “Pior é que “ocês” tem razão... Esse raio desse curso não me serviu pra nada...”
E fico eu aqui, olhando para o céu que se cobre de nuvens pesadas, lembrando histórias sobre o tempo, trazendo de volta momentos doces vividos ao lado de um homem que me ensinou a viver, que partilhou meus caminhos, que me conduziu pela mão, que me preparou até para ficar só quando chegasse seu momento de partida.
Olhando agora pela janela e vendo o sol começando a rasgar as nuvens, numa indecisão total entre “chove ou faz sol”, parece-me ouvir sua voz forte, calma, dizendo: - “Viu, minha flor? eu não disse que não chovia hoje?...”
E fico eu aqui, olhando para o céu que se cobre de nuvens pesadas, lembrando histórias sobre o tempo, trazendo de volta momentos doces vividos ao lado de um homem que me ensinou a viver, que partilhou meus caminhos, que me conduziu pela mão, que me preparou até para ficar só quando chegasse seu momento de partida.
Olhando agora pela janela e vendo o sol começando a rasgar as nuvens, numa indecisão total entre “chove ou faz sol”, parece-me ouvir sua voz forte, calma, dizendo: - “Viu, minha flor? eu não disse que não chovia hoje?...”
2 comentários:
Pois é Dulce, seu esposo foi para a "escola" e desaprendeu...
Há quem diga que "um sujeito é um gênio até entrar na escola".Não sei de quem é essa frase, mas a ouvi várias vezes no meu tempo de Faculdade e confesso que as vezes fico a refletir sobre ela.
Heli,
Bira foi um homem de cultura invejável, não havendo assunto que ele não conhecesse. Quando se foi deixou uma biblioteca de mais de quatro mil livros. Uma pessoa rara. Mas em meteorologia, ele realmente perdeu o "feelling"... risos... e nós brincávamos muito com ele que entrava na brincadeira com alegria,divertindo-se muito com isso.
Mas é verdade mesmo. Ele nunca mais acertou seus palpites sobre a chuva... rs...
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