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MEUS 64 ANOS.
Foi bem longo esse meu caminhar, aqui reduzido a algumas palavras para adequar aos tempos corridos de hoje.
Morávamos num quarto de uma casa de cômodos, daquelas bem velhas, tábuas corridas, tetos bem altos, interruptores pendurados nos fios que vinham das lâmpadas que pouco iluminavam, um só banheiro no corredor para todos da casa. No pequeno quarto vivíamos eu, meus pais, e meu irmão mais velho, o mais novo nasceu 7 anos depois.
Era uma vila de casas iguais, e lá no final uma escadaria de pedra levava a moradas ainda mais humildes, na verdade um cortiço. Rua Paissandu, repleta de palmeiras até hoje, desde a Praia do Flamengo até o Palácio Laranjeiras, sede do Governo do atual Estado do Rio de Janeiro. Na época, a cidade do Rio de Janeiro era o Distrito Federal, Capital do Brasil. Nasci ali bem próximo, na Rua das Laranjeiras, na ainda existente Maternidade Escola, sendo assim um carioca da gema.
E ali fui crescendo indo a Praia do Flamengo com meus pais, passeando na Praça Paris, Parque do Guinle, Praça São Salvador, ou no movimentado Largo do Machado, ainda tenho todas as fotos bem nítidas, clicadas pelo meu pai com uma máquina fotográfica tipo caixote, acho que marca KAPSA.
Logo cedo passavam o leiteiro e o padeiro. No botequim do português, bem próximo da vila, eu ficava de olho no chocolate “refeição”, no chiclete Adams, lembro de tudo daqueles bons tempos de criança. Por ali passava o Getulio Vargas com seus batedores em direção ao Palácio do Catete, sede do Governo Federal.
Depois fomos morar em Nilópolis, ligada ao centro do Rio pelos trens da Central do Brasil, uma vida mais tranqüila de subúrbio, de “casas simples com cadeiras nas calçadas”, hoje um agitado município. Na época Nilópolis já se destacava ao enfeitar o coreto da praça, no Natal e Carnaval, talvez por conta de uma animação que veio a criar a Escola de Samba Beija-Flor.
Eu estudava em escola pública. Comprava carvão para minha mãe usar no fogão, querosene para o lampião (sempre faltava luz). Colecionava figurinhas que vinham nas balas Ruth. Eu adorava tomar os refrigerantes Crush e Grapette, e bem próximo abriram um posto que já vendia sorvetes da Kibon: Jajá de côco, Tonbon de limão, Chica-Bom, chocolates lingote, kibamba, kikoisa, delicados, jujubas... os palitos premiados trocávamos por lápis de cor, bichos de louça, plástico etc.
Meu pai ligava o radio na Nacional e ouvia PRK30, Hora do Pato, depois vieram novelas, Jerônino o Herói do Sertão, que começou em quadrinhos, depois no radio, até na TV. Chegou a TV Tupi, Espetáculos Tonelux, Virginia Lane, Mara Rúbia.
Depois viemos para Niterói na época dos bondes, trolley-Bus (ônibus elétrico) e lotações, as barcas substituíram os trens na minha ligação com o Rio, agora pela Baia da Guanabara.
Tínhamos um carrilhão, relógio cuco a nos acordar toda hora; bomba de flit para matar os mosquitos, logo apareceram as enceradeiras e não precisávamos mais passar o pesado escovão no chão, com palha de aço ou lustrador. Depois chegou o famoso SINTEKO impermeabilizando e deixando com brilho duradouro os pisos de tacos de madeira, acabando a trabalheira.
Eu tive patins, patinete e a bicicleta que virou mania até hoje. Os carros americanos foram dando lugar aos carros “nacionais”, Rural e Aero-Willys, DKW Vemag e Vemaguete, Dauphine, Gordini, Simca-Chambort, caminhão FNM (Fiat), e depois o reinado do Fusca e do Corcel.
Geladeiras, máquinas de lavar roupa, ventiladores, vitrolas alta fidelidade, Long Play, chegou a modernidade. Nos cinemas já tínhamos poltronas estofadas, ar refrigerado, CinemaScope (telas grandes), e os lanterninhas sempre vigiando o “escurinho do cinema”, querendo impedir nossos abraços e beijos com a namorada, sabores drops dulcora, mentex, chiclets de bola de fruta e hortelã.
Eu fumava, todos os atores de Hollywood fumavam, nem se falava em problemas com cigarros. E depois do Continental, do Hollywood, Luix XV, eu passei para os cigarros de filtro, e assim achávamos que estava tudo resolvido. Mas o cigarro ficou para trás há 12 anos – UFA!
Nas festas, ao som de Ray Conniff, Nat King Cole, The Platers, Severino Araujo e outros, usávamos perfume Lancaster, nos cabelos gumex ou glostora, penteados com pentes flamengo, e dançávamos dois para lá, dois para cá, e já existia o cheek to cheek (rosto colado). O jeans chegou para ficar até hoje, no início era a calça LEE, a Lewis. Depois inventaram uma aqui mais fininha, a topeka, mas não durou muito.
Prestei o serviço militar num periodo de paz e democracia na artilharia de costa, na histórica Fortaleza de Santa Cruz, na entrada da Baia da Guanabara, bem próxima das montanhas e praias do Rio e Niterói, na entrada da barra, do outro lado a imensidão do oceano. Nos estudos me formei em Economia pela Universidade Federal, e no concurso público cheguei ao Serviço Público Federal. Trabalhei 5 anos em SAMPA, onde fiz bons amigos e tenho boas lembranças, um período de grande amadurecimento aprendendo a viver num outro contexto, distante da família, amigos, raízes.
Um namoro de 10 anos, o casamento, uma convivência de 48 anos; um casal de filhos e 4 netos renovando e encantando a vida, dois já adolescentes, as meninas mais novas.
Depois tudo começou a acontecer de um dia para o outro nesse mundo de tecnologia, demos saltos para o futuro e chegamos na lua, mas que ainda continua sendo dos namorados. O disco de vinil virou fita, que virou CD, a era digital, e aquele curso de dactilografia que fiz (asdfg/çlkjh), ainda está sendo útil, mas agora aqui no teclado do computador, que tem o mundo na telinha do monitor.
Valeu a viagem, o aprendizado, o perceber que nem sempre temos todas as respostas, mas podemos harmonizar com essa grandeza da CRIAÇÃO em tudo a nossa volta, essa exuberante natureza que não temos respeitado. É um eterno aprendizado, muitas coisas a superar e tentar melhorar sempre. Fazê-lo com amor, paz, respeito ao próximo, generosidade, dignidade, ética e LIBERDADE.
Fico feliz de ter chegado até aqui e considero uma conquista, mas tomara que tenha muito chão pela frente e novas histórias para contar. Valeu a pena! Uma aventura e tanto... e vamos em frente. ney/////
Foi bem longo esse meu caminhar, aqui reduzido a algumas palavras para adequar aos tempos corridos de hoje.
Morávamos num quarto de uma casa de cômodos, daquelas bem velhas, tábuas corridas, tetos bem altos, interruptores pendurados nos fios que vinham das lâmpadas que pouco iluminavam, um só banheiro no corredor para todos da casa. No pequeno quarto vivíamos eu, meus pais, e meu irmão mais velho, o mais novo nasceu 7 anos depois.
Era uma vila de casas iguais, e lá no final uma escadaria de pedra levava a moradas ainda mais humildes, na verdade um cortiço. Rua Paissandu, repleta de palmeiras até hoje, desde a Praia do Flamengo até o Palácio Laranjeiras, sede do Governo do atual Estado do Rio de Janeiro. Na época, a cidade do Rio de Janeiro era o Distrito Federal, Capital do Brasil. Nasci ali bem próximo, na Rua das Laranjeiras, na ainda existente Maternidade Escola, sendo assim um carioca da gema.
E ali fui crescendo indo a Praia do Flamengo com meus pais, passeando na Praça Paris, Parque do Guinle, Praça São Salvador, ou no movimentado Largo do Machado, ainda tenho todas as fotos bem nítidas, clicadas pelo meu pai com uma máquina fotográfica tipo caixote, acho que marca KAPSA.
Logo cedo passavam o leiteiro e o padeiro. No botequim do português, bem próximo da vila, eu ficava de olho no chocolate “refeição”, no chiclete Adams, lembro de tudo daqueles bons tempos de criança. Por ali passava o Getulio Vargas com seus batedores em direção ao Palácio do Catete, sede do Governo Federal.
Depois fomos morar em Nilópolis, ligada ao centro do Rio pelos trens da Central do Brasil, uma vida mais tranqüila de subúrbio, de “casas simples com cadeiras nas calçadas”, hoje um agitado município. Na época Nilópolis já se destacava ao enfeitar o coreto da praça, no Natal e Carnaval, talvez por conta de uma animação que veio a criar a Escola de Samba Beija-Flor.
Eu estudava em escola pública. Comprava carvão para minha mãe usar no fogão, querosene para o lampião (sempre faltava luz). Colecionava figurinhas que vinham nas balas Ruth. Eu adorava tomar os refrigerantes Crush e Grapette, e bem próximo abriram um posto que já vendia sorvetes da Kibon: Jajá de côco, Tonbon de limão, Chica-Bom, chocolates lingote, kibamba, kikoisa, delicados, jujubas... os palitos premiados trocávamos por lápis de cor, bichos de louça, plástico etc.
Meu pai ligava o radio na Nacional e ouvia PRK30, Hora do Pato, depois vieram novelas, Jerônino o Herói do Sertão, que começou em quadrinhos, depois no radio, até na TV. Chegou a TV Tupi, Espetáculos Tonelux, Virginia Lane, Mara Rúbia.
Depois viemos para Niterói na época dos bondes, trolley-Bus (ônibus elétrico) e lotações, as barcas substituíram os trens na minha ligação com o Rio, agora pela Baia da Guanabara.
Tínhamos um carrilhão, relógio cuco a nos acordar toda hora; bomba de flit para matar os mosquitos, logo apareceram as enceradeiras e não precisávamos mais passar o pesado escovão no chão, com palha de aço ou lustrador. Depois chegou o famoso SINTEKO impermeabilizando e deixando com brilho duradouro os pisos de tacos de madeira, acabando a trabalheira.
Eu tive patins, patinete e a bicicleta que virou mania até hoje. Os carros americanos foram dando lugar aos carros “nacionais”, Rural e Aero-Willys, DKW Vemag e Vemaguete, Dauphine, Gordini, Simca-Chambort, caminhão FNM (Fiat), e depois o reinado do Fusca e do Corcel.
Geladeiras, máquinas de lavar roupa, ventiladores, vitrolas alta fidelidade, Long Play, chegou a modernidade. Nos cinemas já tínhamos poltronas estofadas, ar refrigerado, CinemaScope (telas grandes), e os lanterninhas sempre vigiando o “escurinho do cinema”, querendo impedir nossos abraços e beijos com a namorada, sabores drops dulcora, mentex, chiclets de bola de fruta e hortelã.
Eu fumava, todos os atores de Hollywood fumavam, nem se falava em problemas com cigarros. E depois do Continental, do Hollywood, Luix XV, eu passei para os cigarros de filtro, e assim achávamos que estava tudo resolvido. Mas o cigarro ficou para trás há 12 anos – UFA!
Nas festas, ao som de Ray Conniff, Nat King Cole, The Platers, Severino Araujo e outros, usávamos perfume Lancaster, nos cabelos gumex ou glostora, penteados com pentes flamengo, e dançávamos dois para lá, dois para cá, e já existia o cheek to cheek (rosto colado). O jeans chegou para ficar até hoje, no início era a calça LEE, a Lewis. Depois inventaram uma aqui mais fininha, a topeka, mas não durou muito.
Prestei o serviço militar num periodo de paz e democracia na artilharia de costa, na histórica Fortaleza de Santa Cruz, na entrada da Baia da Guanabara, bem próxima das montanhas e praias do Rio e Niterói, na entrada da barra, do outro lado a imensidão do oceano. Nos estudos me formei em Economia pela Universidade Federal, e no concurso público cheguei ao Serviço Público Federal. Trabalhei 5 anos em SAMPA, onde fiz bons amigos e tenho boas lembranças, um período de grande amadurecimento aprendendo a viver num outro contexto, distante da família, amigos, raízes.
Um namoro de 10 anos, o casamento, uma convivência de 48 anos; um casal de filhos e 4 netos renovando e encantando a vida, dois já adolescentes, as meninas mais novas.
Depois tudo começou a acontecer de um dia para o outro nesse mundo de tecnologia, demos saltos para o futuro e chegamos na lua, mas que ainda continua sendo dos namorados. O disco de vinil virou fita, que virou CD, a era digital, e aquele curso de dactilografia que fiz (asdfg/çlkjh), ainda está sendo útil, mas agora aqui no teclado do computador, que tem o mundo na telinha do monitor.
Valeu a viagem, o aprendizado, o perceber que nem sempre temos todas as respostas, mas podemos harmonizar com essa grandeza da CRIAÇÃO em tudo a nossa volta, essa exuberante natureza que não temos respeitado. É um eterno aprendizado, muitas coisas a superar e tentar melhorar sempre. Fazê-lo com amor, paz, respeito ao próximo, generosidade, dignidade, ética e LIBERDADE.
Fico feliz de ter chegado até aqui e considero uma conquista, mas tomara que tenha muito chão pela frente e novas histórias para contar. Valeu a pena! Uma aventura e tanto... e vamos em frente. ney/////
2 comentários:
Foi, sem dúvida, um caminho trilhado com amor e vontade de vencer esse que trouxe até nós o amigo sensível, atento, dinâmico, participante da vida, olhos no futuro, coração no presente, o Ney que conhecemos hoje e que aprendemos a admirar. O marido dedicado, o pai amigo, o avô amoroso... O Neyniteroi de tantos amigos!
Um belo caminhar que há de ser muito longo e feliz. Parabéns, Ney!
Feliz Aniversario!...
Dulce,
Obrigado por essas amigas e carinhosas palavras, que sempre nos animam a seguir em frente. Alegrias ai nos EUA junto à família, em SAMPA quando voltar, por todos os seus caminhos, com muita paz e amor. VALEU!
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