18 janeiro 2007

Que texto!!!

Pois é...as aulas vão começar logo.As famílias não sabem mais o que fazer com a garotada...
enquanto isso, nós professores estamos a planejar o que fazer, o que pode ser melhor, o que podemos fazer para mudar um pouco as coisas...

O poder da caneta.

Marcondes Rosa de Sousa

O Povo - 17/01/2007 00:49
Décadas atrás, era a cena grotesca: velho fusca, a cruzar a cidade, com a inscrição no pára-choque: “hei de vencer mesmo sendo professor”. Nas ruas, o que, nas lojas, os cadastros já eram jurisprudência: crédito negado ao docente.

Hoje, a dor dessa gente já sai no jornal. Salários minguados retêm-se atrasados. Sociais direitos se burlam. Aprender, o “dernier cri”, em descartáveis chipes. Professor, palhaço a “motivar” os alunos e “bode expiatório” de nosso fracasso educacional, em meio ao marketing enganoso (o oficial e o das escolas privadas).

Angústias e depressões, os docentes descarregam nos consultórios e candomblés. Vítimas da violência na escola, vêem-se “pedras no meio do caminho” rumo ao trabalho e à vida, a culpa vista pelo “aqui manda o cliente”. Em casa, dizem-me: que vale isso? – medalhas, troféus, diplomas, livros velhos. Só p’ra atrair cupim... Tudo, no Google.

Na Web, chegam-me, crescentes, as queixas: “Cansei de escola e universidade, vou tentar o artesanato”. “Seu tempo já passou”, tudo ao tom de “o passado é roupa velha que não nos serve mais”. Nela, chega-me a denúncia da professora Marisa Lajolo, da Unicamp/SP, em defesa de duas qualificadas docentes da PUC/RS. Marisa vale-se do poema: “Na primeira noite eles se aproximam/e roubam uma flor/do nosso jardim./E não dizemos nada./Na segunda noite, já não se escondem:/pisam as flores, matam nosso cão,/e não dizemos nada./Até que um dia,o mais frágil deles/entra sozinho em nossa casa,/rouba-nos a luz/ e,conhecendo nosso medo,/arranca-nos a voz da garganta./E já não podemos dizer nada.”

Dizer algo podemos sim – diz-nos a laureada Marisa. Solidário com ela, vou além. Se nos arrancam a garganta, sobra-nos o poder maior da caneta, mais afiado e durável que os temporãos interesses do marketing econômico e político!


Marcondes Rosa de Sousa é professor da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade Estadual do Ceará (UECe). Escreve quinzenalmente. E-mail: marcondes1943@yahoo.com.br

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