12 outubro 2006

Respeitem o Clodovil - Guilherme Fiuza

Respeitem o Clodovil
Clodovil Hernandez chegou ao parlamento e foi tratado como costureiro. O presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo, que por ser político profissional de esquerda acha que entende de democracia mais do que os outros, foi logo dizendo a Clodovil o que ele tem que fazer como deputado.
Dinossauro comunista, Rebelo deve ter se sentido magnânimo ao receber o costureiro gay sem preconceito e sem risadinhas abafadas. E ainda foi bonzinho ao dizer a Clodovil que ele deveria usar seu mandato para defender a indústria da moda.
Essa gente não aprende. Esse marxismo torto continua querendo reduzir tudo à lógica econômica. E não é só na esquerda anacrônica. Outro dia, respondendo sobre seus planos para a cultura, o tucano Geraldo Alckmin declarou que o setor é importante para gerar emprego e renda! Só falta receitar ração canina como alimento para o espírito.
Nem Aldo Rebelo, nem ninguém tem autoridade para dizer a Clodovil o que ele tem que fazer no Congresso. O costureiro afetado, polêmico e deslumbrado é agora um representante do povo. Eleito com mais de 400 mil votos. Um mandatário legítimo, provavelmente mais independente do que a maioria de seus pares, incluindo Aldo Rebelo. E fim de papo.
É claro que os brasileiros cultos já estão dizendo que a votação de Clodovil é um absurdo, que o eleitorado não presta etc. É essa nata intelectual que ama a democracia desde que ela venha com manual de instruções, e que seja praticada do jeito que eles querem. Senão, não vale.
Conversa estranha. Com Enéas foi a mesma coisa. O povo deu uma votação consagradora ao barbudo barulhento? Então o povo errou, disseram os iluminados da ciência política. O que esses libertários de jardim de infância não aprendem é que um Enéas pode representar os anseios de uma fatia da sociedade, por mais rudes que sejam eles.
A não ser que se nomeie um juiz acima do bem e do mal para determinar quais idéias podem circular ou não na sociedade. Seria a democracia com filtro.
Uns poucos especialistas começam a dizer que se deve dar uma chance a Clodovil, porque talvez ele possa se revelar um bom parlamentar. Quanta generosidade. Quem sabe o costureiro afetado não toma jeito, e não se torna por exemplo um especialista em previdência, desses que fazem lobby pelos funcionários públicos e acabam virando conselheiros de fundo de pensão?
Pois é preciso dizer a esses juízes da democracia que o melhor que pode acontecer a Clodovil é não virar um “bom parlamentar”. Continuar sendo essa bicha histérica e indomável, capaz de desconcertar os Aldos Rebelos da vida e, quem sabe, oferecer à sociedade brasileira uma visão crítica do Congresso Nacional.

Publicado por Guilherme Fiuza - 12/10/06 12:01 AM

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