07 outubro 2006

E, por falar em CHEGAR JUNTO....

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O que vamos assistir a partir de outubro?

Terminada as eleições no domingo à noite, assistiremos Lula acenando novamente – como já fez hoje – para FHC, Sarney e Itamar Franco. A resposta de todos eles não virá imediatamente, pois em alguns estados poderá estar havendo segundo turno. Porém, finalizado o processo eleitoral, vocês verão Lula ter nas mãos os três ex-presidentes. Talvez, finalmente, Lula tenha aprendido uma lição: não é necessário comprar o Congresso com mensalão. Aquela operação que Zé Dirceu e outros fizeram, era desnecessária. Lula e outros poderiam ter colocado dinheiro no exterior e comandado o Congresso por meio da democracia e de um esquema de corrupção bem menos megalomaníaco. Gente como eu e o senador Pedro Simon jamais teríamos nos desencantado.

Qual a razão de eu dizer isso? A razão é simples: FHC e Sarney comandam bancadas no Congresso. Itamar menos, mas ainda tem lá seus amigos. É claro que Lula pode governar apenas com o PMDB. Isso já era possível antes. Mas FHC, logo no início do governo Lula, no primeiro mandato, foi claro: “não vou fazer oposição ranheta”. Assim, como sempre, FHC deu para Lula o mesmo recado que havia dado para Collor: estou aberto para ofertas. Sarney, este nem precisa dizer. Há muito que é “Lula roxo”. Itamar, por esses dias, falou mal de Lula, mas já se arrependeu. Até Collor, hoje, torce por Lula. Pois o Presidente é o único que pode trazê-lo de fato de volta ao cenário político – e assim vai fazer.

Lula conseguiu um milagre: fez o pacto social que Tancredo Neves quis fazer, sem precisar de algo incômodo para o político brasileiro: ideário programático. O pacto saiu naturalmente. Lula mostrou que está aberto a negociatas como qualquer outro político e, portanto, deixou claro a FHC e todos os outros que estão livres para conversar abertamente com ele, sobre “toma-lá-dá-cá”; não é necessário fazer cerimônias.

Lula se livrou do PT em dois sentidos: no bom sentido e no sentido podre. O PT-bom, com seu ideário socialista retrógrado, mas honesto, ficou com Plínio de Arruda Sampaio. Ora, esse é um ideário completamente derrotado no mundo todo. Não por ser honesto. Mas por ser errado. Ninguém consegue viabilizar um país economicamente com um pensamento socialista. No final, este tipo de PT migrou para o PSOL e, enfim, virou o que era o PT no passado, coisa de grêmio estudantil – de estudante que não estuda. O PT-podre, este está aí, ainda causando dor de cabeça. Mas Lula tem votos acima desse PT-podre. Lula atingiu uma situação que é a seguinte: hoje, se ele aparecer na TV em uma foto na qual está com a mão dentro de um cofre público, o povo dirá que ele está doando dinheiro para a nação, e não tirando. Como Vargas e Jânio, Lula descolou do julgamento moral.

Não cabe aqui avaliar como Lula fez o que fez. Há dezenas de elementos que contaram a seu favor. Mas um deles é, sem dúvida, a falta de tradição oposicionista do que ficou sendo a oposição no Brasil. A oposição no Brasil era o MDB, o PMDB e, então, o PT. O PSDB e o PFL nunca exerceram a oposição. Nesse curto espaço de tempo democrático, esses partidos não conseguiram criar um discurso oposicionista real. Não possuem base popular, e no congresso, se envolvem facilmente com acenos do governo a ponto de não conseguirem mostrar uma face oposicionista conseqüente. Estamos muito longe da democracia americana, onde os dois grandes partidos possuem vocação para o poder e para a oposição. Não, aqui não cultivamos isso. E agora, Lula, que sabe bem disso – desde o dia em que ele foi chamado por Golbery para gerar um novo sindicalismo – vai cultivar o que há para ser cultivado na política brasileira: o aceno aos ex-presidentes. Ele já havia feito isso quando da viagem para visitar o Papa. Estava tudo dando certo, e aí veio o fatal ano de 2005, onde a besta fera Roberto Jefferson inventou de martirizar José Dirceu e se autoflagelar para tal. Veio tudo para o ralo então. Mas Lula é gordo demais para passar no ralo. Ficou. E ficando, vai manter a corja toda que nos governou e que não nos governou. E não pense que fora dessa corja há algum candidato à presidência. Não há: é tudo produto do próprio PT ou derivados, não esqueçam disso.

Lula sabe, também, que como FHC, Sarney e Itamar, ele será ex-presidente. E será chamado por José Serra, o futuro presidente, para um novo “pacto social”. Vai ou não rolar dinheiro nisso? Isso é secundário. Os grandes políticos aprenderam que, no Brasil, a corrupção só derruba um presidente se o houver oposição de fato. Collor caiu. Lula não. Essa lição o Brasil aprendeu. O próprio Collor disse isso a Lula: o problema é o Congresso. Mas isso não era para ser entendido como Zé Dirceu entendeu. Era para ser entendido assim: compre um a um, e não todos de uma vez com salário. Mas sabe como é sindicalista, adora pagar todo mundo em forma de imposto sindical ou salário ou FGTS. Então, virou aquilo lá que virou, o mensalão. Neste segundo mandato, talvez as coisas caminhem de modo menos escandaloso, de modo que José Serra pegará um país pobre, de Terceiro Mundo, mas aparentemente honesto e, pior, arrogante. A cara do próprio Serra.

Paulo Ghiraldelli Jr. “o filósofo da cidade de São Paulo”.

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