09 fevereiro 2010

Podem os educadores mudar a escola?

Falando em Educação, escola, professores, este texto do Danilo Gandin* pode nos levar a refletir sobre a escola que queremos ter para os nossos filhos, netos, etc...

Temos uma tradição legalista em nossas escolas. Ela se sustenta no modo depensar que chamamos senso comum, isto é, naquilo que as pessoas acreditamsem pensar, naquilo que é repetido sem que se tenha um fundamento real paraacreditar. Fiz uma comparação entre o meu ginásio, o ensino de 1º grau demeus filhos e o Ensino Fundamental que meus netos vão começar a sofrer embreve. Quase não há diferença entre 1950 e 2010: quase todos vão à escola,diminuiu o número de disciplinas, fala-se mais em coisas novas, há reuniões,congressos e “aperfeiçoamento”, mas o currículo, em sua base, segue o mesmo.Se perguntarem às professoras (também aos professores, pois ainda os há,embora poucos, o que constitui outra mudança escolar) quais os conteúdos desua matéria, em qualquer série, elas responderão da mesma forma do Oiapoquao Chuí. É claro que professoras e professores mais lúcidos – são muitos –sabem que isto é uma aberração. Mas são escravos da “legislação”.

Encontro por este Brasil afora muitos grupos de professoras e professoresque pensam. Mas eles e elas são proibidos de pensar, pela pressão docotidiano. E pela prática de muitas outras e muitos outros “educadores” quepreferem ser pilotos de livro didático, passando um amontoado de informaçõesdesligadas da realidade e de que, em geral, todos já ouvimos falar, mas doque não nos lembramos mais a não ser de alguns itens que coincidiram comnossos interesses.

Não, não podemos mais, os educadores, realizar esta revolução que a escola necessita. Embora o Conselho Nacional de Educação e muitos outros organismoseducativos que são “autoridade” digam que as escolas são livres, isto não éverdade. A escola é o campo mais vigiado da prática humana. Ai dela setentar, além da sua prática de transmissão da cultura – e da culturadominante – propor alguma alteração na hierarquia de valores! Ela écontrolada pela lei. Mas, sobretudo, por regulamentos expedidos por órgãosinferiores e pela própria sociedade. Talvez a distribuição gratuita do livrodidático, tão desejada, seja a principal maneira de constranger a escola.Mesmo que a reprovação e a evasão sejam um descalabro, elas são construídaspropositadamente pela escola. Como se manteria a divisão em classes de outra forma?

Só uma ação governamental poderosa pode mudar a escola hoje. Mesmo sabendoque a mudança verdadeira só será possível por uma democratização real dasociedade – incluindo mais igualdade –, hoje pode a autoridade governamentaltransformar o currículo, para que a escola ajude as crianças a assumirem suaprópria identidade, possam munir-se de instrumentos para participar nasociedade, possam assumir um compromisso social e tenham a vivência ligada àtranscendência, pelo menos desenvolvendo a capacidade de ultrapassar seusinteresses mais imediatos.
*Professor, escritor e conferencista

7 comentários:

Anônimo disse...

"Só uma ação governamental poderosa pode mudar a escola hoje."...não somente mas que a sociedade esteja evoluindo junto...Crescendo em seus valores em sua tolerância e respeito. Um abraços estava com saudades deste cantinho

Maria Auxiliadora de Oliveira Amapola disse...

Bom dia.
Meu filho sempre desabafa sobre essas questões, e conversamos muito sobre o "sistema". Ele faz mestrado de biologia na UFMG, onde se formou, e onde já leciona, como professor substituto.

Um abraço.

heli disse...

Bya.
Nosso Sistema Educacional é retrógrado e, como professores, estamos dando murros em ponta de faca.
Como mudar isso é uma das questões que mais nos inquieta, pois sozinhos, os professores não conseguem mudar esse sistema.Só uma grande mobilização nacional pode mudar o quadro caótico em que nos encontramos.
Que bom que você está de volta por aqui,
beijos

heli disse...

Amapola.
Com certeza, seu filho tenta fazer o melhor em suas ações educativas e nada consegue como avanço significativo.
Acredito que o Gandin esteja correto ao afirmar que somente uma grande mobilização governamental possa mudar esse sistema que está aí.

ney disse...

Pois é, heli, lembro que Brizola e Darcy Ribeiro tentaram fazer mais pela educação, pela inclusão social, mas incomodaram muitas estruturas existentes e nada foi levado adiante após a saída deles. ney/

heli disse...

Ney.
São muitos os teóricos que já tentaram mudar a educação no Brasil, com suas idéias e ações, mas nada vai acontecer se não houver uma ação coletiva, envolvendo a sociedade civil e a classe política. A educação brasileira merece maior respeito das nossas autoridades, mas cada cidadão de fazer a sua parte.
OS PAIS cobram uma escola voltada para os modelos do passado e se os professores tentam inovar as suas práticas educativas logo são cobrados e taxados de incompetentes.
beijos

heli disse...

Sergio.
Ficamos muito felizes com a sua presença, volte sempre que desejar, ainda mais se gostou do nosso blog.
beijos