13 maio 2009

Rubem Alves: É brincando que se aprende...

O professor Pardal gostava muito do Huguinho, do Zezinho e do Luizinho e queria fazê-los felizes. Inventou, então, brinquedos que os fariam felizes para sempre, brinquedos que davam certo sempre: uma pipa que voava sempre, um peão que rodava sempre e um taco de beisebol que acertava sempre na bola. Os três patinhos ficaram felicíssimos ao receber os presentes e se puseram logo a brincar com seus brinquedos que funcionavam sempre.

Mas a alegria durou pouco. Veio logo o enfado. Porque não existe nada mais sem graça que um brinquedo que dá certo sempre.Brinquedo, para ser brinquedo, tem de ser um desafio. Um brinquedo é um objeto que, olhando para mim, me diz: "Veja se você pode comigo!". O brinquedo me põe à prova. Testa as minhas habilidades. Qual é a graça de armar um quebra-cabeça de 24 peças? Pode ser desafio para uma criança de 3 anos, mas não para mim. Já um quebra-cabeça de 500 peças é um desafio.
Eu quero juntar as suas peças! Para isso, sou capaz de gastar meus olhos, meu tempo, minha inteligência, meu sono.

Qualquer coisa pode ser um brinquedo. Não é preciso que seja comprado em lojas. Na verdade, muitos dos brinquedos que se vendem em lojas não são brinquedos precisamente por não oferecerem desafio algum.
...
Congressos de educação: a gente pensa logo em professores, psicólogos, "papers" científicos, filósofos... Estive em um, na Itália, diferente, em que havia muitas crianças. E havia uma oficina em que um "mestre" ensinava às crianças a arte de fazer brinquedos. Um deles era um par de pregos grandes, tortos, entrelaçados, que, se a gente fosse inteligente, conseguia separar. Gastei uns bons dez minutos lutando com os pregos, absorvido, inutilmente. De repente me perguntei: "Por que estou assim, gastando o meu tempo com um par de pregos?".

Eu lutava com os pregos pelo desafio. Eu queria provar que eu podia com eles. Repentinamente, percebi que a primeira tarefa do professor é, à semelhança dos pregos, entortar a sua "disciplina" (ô, palavra feia, imprópria para uma escola!) e transformá-la num brinquedo que desafie a inteligência do aluno. Pois não é isso que são a matemática, a física, a química, a biologia, a história, o português? Brinquedos, desafios à inteligência. Mas, para isso, é claro, é preciso que o professor saiba brincar e tenha uma cara de criança, ao ensinar. Porque cara feia não combina com brinquedo...

Rubem Alves
Artigo completo em:

http://www1.folha.uol.com.br/folha/sinapse/ult1063u258.shtml

3 comentários:

FERNANDINHA & POEMAS disse...

QUERIDA DULCE, BELO TEXTO... SIMPLESMENTE ADOREI AMIGA... ABRAÇOS DE CARINHO E TERNURA,
FERNANDINHA

UBIRAJARA COSTA JR disse...

Vernandinha,

Esse ótimo texto foi selecionado pela Heli, mulher inteligente, atual, sempre por dentro do que acontece no mundo. Ela vai ficar muito feliz com sua visita e com suas palavras...
Volte mais vezes, ficamos muito felizes com sua visita.
Muitissimo obrigada.
Beijinhos

Dulce

heli disse...

Fernandinha.
Rubem Alves é fantástico.
Também adorei este texto, ele mostra com palavras sábias um modo simples e verdadeiro de ensinar e de aprender.
Obrigada pela visita, volte sempre.
Bjs
heli