Crônica de Távola - Terça 12-02-2008
O tal papo-cabeça!
“Puxa, como você é complicado!’’ Sabe quando alguma coisa fica martelando em seu ouvido a ponto de incomodar? Pois aconteceu comigo, após aquela cena, em que um amigo sentenciava o outro. O jovem, algo tímido, ouviu a terrível sentença (julgamento do outro) e não conseguiu esconder a expressão agoniada de um inocente que, por uma simples frase, torna-se culpado, errado, sei lá, só sei que era um olhar que merecia ser defendido. Como o assunto interessa a todos nós, lanço-me na defesa da sensibilidade de um jovem a quem mal conheço.Para quem o chama de complicado, papo-cabeça e o ofende, como explicar que a complexidade é rica, significante, cheia de caminhos maravilhosos, vários dos quais bloqueados até por você mesmo, o complicado? As porteiras e os mata-burros de nossos caminhos interiores são construídos por nós mesmos.E quem o fez, talvez esteja temendo caminhar com você pelas vias da sua criatividade interior, que o poderia confundir. É mesmo mais fácil escolher um só caminho e acreditar nele. Mais fácil e mais falso... Talvez aquela pessoa agressiva com você não esteja querendo (nem podendo) ver a força dos mundos interiores (ou as várias faces do mundo) que você tem para oferecer a quem topar a aventura de conhecer o seu próprio mundo interior. É que as pessoas preferem a vida de relação, o “conhecimento’’ externo, aos mergulhos no fundo da densidade e da complexidade humanas.Quando alguém diz ‘’Conheço fulano como a palma da minha mão’’, na verdade quer dizer que já tem o fulano na palma da sua mão e que a relação entre eles é tão superficial que ele até pode dominar o outro. E a realidade é diversa. Quando alguém é “conhecido” por não ser “complicado”, esse alguém se fechou à criatividade interior, e o que você conhece dele é pouco, ou nada. É o que ele lhe concede. Complicação uma ova! Naquele jovem, chamado de complicado, latejava sensibilidade rica, capaz de ver e sentir os “vários caminhos do mundo”.Leve com orgulho a sua complicação, jovem amigo. Ser complicado é passar a vida fingindo ou fazendo força para ser igual. Ser complicado, enfim, meu jovem e assustado amigo, é estar aberto para o mundo, conseguindo vê-lo sem ódio e a raiva com que se é visto por se colocar sensibilidade e amor demais onde as pessoas querem menos, seja por comodismo, cansaço ou mesmo por burrice.
Artur da Távola.
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