10 maio 2007

TRIÂNGULOS

Leio esse tipo de texto e fico a me perguntar?

Onde foi que eu errei???Hehheh

TRIÂNGULOS


Rubens Portugal


Você pode olhar para uma turma de 1ª a 4ª série de duas maneiras diferentes. Você pode ver,pura e simplesmente, 34 crianças sentadas em suas carteiras com sua professora à frente, ou então 34 triângulos. Cada triângulo consiste na professora em um dos vértices. Nos outros dois vértices, você vê a criança e sua respectiva mãe. Você pode escolher, portanto, uma dessas duas maneiras de ver.
Quando optamos por ver triângulos, significa que temos 34 situações familiares por trás de cada criança. Quando escolhemos simplesmente 34 crianças em suas carteiras, podemos estar desprezando a família como importante fator.


Ausência e irresponsabilidade


Estatisticamente, numa turma com 34 crianças há a média de seis que nos preocupam muito mais do que as demais. O inferno existe, sim: é o dilema que a professora enfrenta diariamente. Ou ela dá atenção redobrada e estressante para os seis peraltas inquietos e desatentos ou cuida dos 28 não preocupantes.

As duas alternativas são traiçoeiras.


As professoras experientes percebem que têm, na verdade, 28 crianças tranqüilas, misturadas com seis triângulos preocupantes. Por quê? Porque no caso das 28, a professora já sabe que as mães existem no imaginário ou no plano afetivo de cada uma delas. No caso das seis problemáticas ou preocupantes, a professora experiente também já sabe que a causa dos problemas está no vértice complicado, a mãe.
Os seis triângulos preocupantes têm, infalivelmente, o vértice crítico na mãe que ou é ausente, ou irresponsável, ou interditada. Não importa saber a causa da ausência, da irresponsabilidade ou da interdição. Importa perguntar como dar a orientação correta para a criança que está desamparada na floresta da vida. Na mitologia romana, Remo e Rômulo, os fundadores de Roma, estavam assim abandonados e foram criados por uma loba, conforme nos conta Virgílio em seu poema épico, Eneida.


Um rumo para os preocupantes


O ideal é tratar as crianças problemáticas individualmente em laboratório psicológico, dando a elas atenção personalizada.
Nas redes públicas do Brasil, é inviável essa solução ideal. Está, pois, nos ombros dos dirigentes escolares encontrar maneiras práticas para ajudar a professora a sair do seu inferno diário. As 28 crianças disciplinadas merecem o melhor da sua atenção e ternura.
Por outro lado, os seis triângulos problemáticos constituem-se em sobrecarga insuportável se não se conseguir oferecer tratamento personalizado, talvez em outros horários (contraturno) para aquelas seis crianças e se não pudermos oferecer assistência familiar adequada para as mães.
O assunto merece a atenção das autoridades educacionais em todos os níveis. Basta lembrar que estamos falando de 7.500.000 Rômulos ou Remos. O poeta romano Virgílio ficaria assombrado diante dessa nossa pretensa mitologia brasileira.

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