10 abril 2007

SOBRA SOBEL NA SÓ BELEZA MÍDIA

A RESPOSTA DO EX-GOVERNADOR PAULO PIMENTELMOACYR SCLIAR SOBRE SOBEL NO ZERO HORA
Sr Osias Wurman
Não sou inimigo da comunidade judaico-brasileira. Tão pouco tenho intenção de disseminar racismo e anti-semitismo. Somente uma emoção injustificável pôde levá-lo a classificar o meu comentário na televisão do Paraná de "grosseiro e ordinário". Esses adjetivos valem para a condenação da seqüência de atos praticados pelo Sr. Henry Sobel, em Miami, apreciados pela polícia.Apenas fiz considerações sobre o procedimento criminoso de um cidadão."É impossível explicar o inexplicável", do ex rabino em São Paulo, após seu retorno ao Brasil.
DoPaulo Pimentel
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A nossa frágil condição humana
Moacyr Scliar
O ano era 1975, época da ditadura militar. Como muitas vezes acontecia então, um jornalista foi detido: era Vladimir Herzog, diretor da TV Cultura de São Paulo. Levado para a carceragem, no dia seguinte estava morto. Versão oficial: suicídio por enforcamento.Herzog era judeu. Na religião judaica, os suicidas não podem ser sepultados junto com outras pessoas, e sim em lugar à parte no cemitério, ao pé do muro. A decisão de onde seria enterrado era aguardada, por isso, com expectativa: ela endossaria ou não a idéia de suicídio.Herzog não foi enterrado ao pé do muro. E quem o decidiu foi um jovem rabino recém-chegado ao Brasil, Henry Sobel. Sua corajosa posição repercutiu intensamente e deu início a uma carreira surpreendente. Sobel logo se caracterizou como um homem do diálogo e de idéias avançadas: idéias que não deixavam de provocar controvérsia na comunidade judaica, mas que o transformaram numa figura de vanguarda em nosso país. E aí acontece algo surrealista: este homem é preso, nos Estados Unidos, roubando gravatas. Gravatas que certamente Sobel poderia comprar. Sua perturbadora conduta mostra como são complicados e imprevistos os labirintos da mente humana. Homem inteligente, sensato, Sobel não faria o absurdo que fez se estivesse naquilo que chamamos de “o seu normal”. Mas ele não estava em “seu normal”. Só com a prisão deu-se conta do que tinha feito.Um incidente grotesco, mas também uma tragédia, atingindo uma figura importante no debate brasileiro. Com o que descobrimos, penosamente, que mesmo líderes expressivos são seres humanos, sujeitos às vaidades, às fraquezas e às doenças que acometem os seres humanos.Agora vejam a ironia: quando os imigrantes judeus chegaram ao Brasil, e particularmente a São Paulo, muitos deles tornaram-se vendedores ambulantes de gravatas. Naquela época ninguém podia entrar num banco (sobretudo para pedir um empréstimo) sem gravata. Era um comércio modesto, mas com público certo, e foi até celebrado por Adoniram Barbosa num samba famoso: “Jacó/ o senhor me prometeu/ uma gravata…”.A gravata era, para os vendedores, um meio de sobrevivência. Mas era também, e continua sendo, um símbolo de status. Um símbolo que, para Henry Sobel custou caro, absurdamente caro – mais caro que o obsceno preço em dólares. Este absurdo nos remete, ainda que metaforicamente, às contradições inerentes à condição humana, e contra as quais nem a cultura, nem a sabedoria, servem como antídotos. E nos lembra a frase do escritor latino Públio Terêncio, que viveu por volta do segundo século antes de Cristo: “Sou humano, e nada do que é humano me é estranho.”Publicado no jornal Zero Hora
Osias Wurman - Jornalismo

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