10 outubro 2010

A ilusão do Facebook - Bety Orsini

A ilusão do Facebook

Quando eu era pequena, mamãe falava muito em ilusão. Ilusão pra lá, ilusão pra cá, e finalmente chegamos ao Facebook, essa incomparável fábrica de ilusões. Depois de muito relutar, entrei na coisa e, cá entre nós, não achei essa rede social muito animadora. Num momento de carência absoluta comecei a aceitar todos os pedidos de amizade que me faziam. Juro, nem queria saber quem eram as pessoas, apenas ia apertando a palavra “aceito” ad eternum. Depois clicava numa janelinha e atualizava o número de amigos. Nossa, já passei dos 200, sou um sucesso, uma mulher de sorte.

Mas depois do surto inicial comecei a pensar o seguinte: se eu passei tantos anos no divã tentando preservar um pouco a minha vida e os meus sentimentos, como eu ia ficar agora fazendo inconfidências por aí do tipo: acordei, tomei café, tomei champanhe, comi escargots e por aí vai? E os analistas, que passam anos tentando nos convencer a preservar a nossa imagem, como eles vão agir agora para enquadrar as pessoas nesse adorável mundo novo? E, mais: cada vez que leio comentários que posso fazer com um amigo que está perto de mim, gente que acolhe a minha alma, é como se eu estivesse perdendo tempo na vida. Eu me sinto como uma grande isca, sendo puxada por um peixe enorme e faminto, no caso o Facebook. Só que, graças a alguma força superior — amém — não sou sugada para o fundo porque atualmente tenho o hábito de parar para analisar até onde devo ir. Trago sempre na cabeça uma frase que meu primeiro analista vivia repetindo para mim: “Bety, para pra pensar”.

E pensando, pensando, e com todo o respeito por meus amigos de Face (agora só se fala assim, Face em vez de Facebook), concluo que não são todos eles que me interessam. Quero ter por perto apenas aqueles que guardam um pensamento bom
sobre a minha pessoa. Os que vão me acalentar quando eu estiver triste, me afagar quando eu estiver carente. O resto? O resto se esvai no Facebook.

4 comentários:

Anônimo disse...

Olá!

É a mais pura verdade!
Essas redes de relacionamentos (todas!) não passam de uma isca para nos levar à beira da loucura!

Nos envaidecemos com todo tipo de gente e comentários "carinhosos" que engolimos como se fossem a mais pura verdade, e sabemos que não é. É tudo uma grande ilusão... pois, quando desligamos o computador e saimos daqui, estamos sozinhos de novo!

Dessa forma, só posso concluir que amigos de verdade são os que estão por perto, mesmo depois que desligamos o computador.

Belo texto! Uma ótima reflexão!
Beijos

ney disse...

Concordo com vocês. E eu ainda tenho um motivo a mais, nunca consegui entender direito o facebook, e nem o orkut. Mas essa é uma dificuldade minha, ou resistência, tentei algumas vezes e acabei embolando o meio de campo, como se diz no futebol. Fico perdido em configurações, como aceitar, responder, fazer funcionar, interagir etc.
Ainda bem que consigo avançar em outros segmentos do virtual, então não fico muito triste com meus neurônios (rs).
Mas tudo é motivação, e quando não temos não adianta. Sei que tem aspectos interessantes, conhecer pessoas,interagir, encontrar amizades antigas (orkut), mas me perco no caminho.
Usei muito o ICQ, mais ainda o MSN, um pouco o skype, mas também não conseguia falar com um ou outro, duas ou mais pessoas ao mesmo tempo, e desistia.
Devo aparecer como tendo FACEBOOK, MSN etc., porque a nova configuração do HOTMAIL envolve todos eles, mas não uso e não sei como fazer direito.
Fico no velho e-mail, no blog onde coloco textos e fotos do meu jeito, e porque gosto.
Mas a rede ai está para todos os gostos, cada vez mais dinâmica e em tempo real, o mundo todo conectado e interagindo, então o virtual virou um real.
Tudo é muito rápido aqui, eficiente, mágico, útil, faz parte da nossa vida. E chegou num tempo de insegurança nas ruas, esquínas, bares, então encontrou um terreno fértil e um horizonte sem fim.
Vamos escolhendo nossos melhores caminhos, os que nos dizem melhor, diantes das circunstâncias, necessidades, interesses etc. E tentando CHEGAR JUNTO. (ney).

Rute Beserra disse...

Oi Ney, parabéns pelo texto.
Confesso a vc, que eu sou um pouco analfabeta com esses recursos da internet.
Meu orkut aberto é só para acompanhar as atividades registradas na instituição de ensino ao qual trabalho. Msn- quase não entro. O que mais uso na internet é o blog e os meus e-mails,
Mas confesso a vc, que com tanta tecnologia, que muitas vezes, me perco, e muitas vezes, tenho saudades da máquina de datilografia( a qual, minha mãe fez questão de guardar, a dela para posterioridade, ainda funciona).
Mas como disse o amigo acima, vamos nos acostumando conforme a necessidade, que a sociedade nos apresenta.
Beijos Ney, ótimo texto para grandes reflexões e maravilhosos discursos.

ney disse...

Rute,
Valeu! Pois é, disse ai meu jeito de ver e sentir, mas nunca temos todas as respostas, nem sabemos das verdades, somos humanos e limitados, vivemos uma roda viva, real e virtual, um mundo globalizado, influenciados por tudo e todos a nossa volta, pela mídia, circunstâncias, necessidades, pelo pensamento universal através do tempo.
Mas valem os bons sentimentos, o ser digno e eterno aprendiz, buscar o crescimento, a verdade, um mundo melhor.
Disso temos certeza, e de cuidar também da natureza, e não deixar as sociedades se perderem em drogas, mentiras, violências.
Tá feia a coisa, não podemos deixar a peteca cair, o barco afundar. Nem pensar! Abraço/ney.