27 setembro 2006

opinião de XICO VARGAS

De dar vergonha na torcida
O debate promovido pela TV Globo entre os cinco candidatos ao governo do Rio, mais bem colocados nas pesquisas de intenção de voto, foi um dos piores momentos da campanha política. Se a intenção de quatro deles era desconstruir Sergio Cabral, apontado como vencedor em primeiro turno, lamentavelmente a carga de cavalaria enfiou-se no brejo.
Cabral foi o único que trocou o genérico pelo específico. Parecia ter feigto o dever de casa. Com números e percentuais, falou de transporte de massa, da Cedae, dos dramas do funcionalismo, de segurança e até da escolaridade da polícia civil, mesmo depois de Denise Frossard o ter acusado de ceder a Garotinho e votar contra projeto que favorecia inspetores de polícia.
Crivella, coitado, foi apenas o mais bem vestido dos homens (Frossard arrasou com um colarzinho de pérolas e uma orquídea na lapela). Vladimir, cuja cor da pele inspira cuidados, passou por bom figurante, com poucas falas e um jeito simpático de tirar os óculos. Num reino, seria uma espécie de bufão. Num jogo de vôlei, retirado da quadra pela incapacidade de cortar uma bola sequer. Eduardo Paes (camisa social sem gravata) manteve o estilo do antigo mestre, Cesar Maia, balançando um pouco na tela da TV.
Confrontada com seus pareceres na Câmara contra deficientes (pura bobagem), Frossard exumou Darcy Ribeiro e Leonel Brizola, providência que, se amplia o número de preconceituosos, jamais elimina o preconceito. É como dizer “olha, fiz uma bobagem, mas esses caras, que eram campeões de audiência, também fizeram”.
A juíza também exagerou um pouco naquela história velha de “eu sou a cara da lei” e acabou referindo-se a um funcionário seu como “pobre diabo”. Crivella revelou-se uma espécie de nada: contou como grande trunfo ser um senador “muito próximo de Lula” (isso hoje é vantagem?) mas afirmou que falta tudo ao estado, ou seja, a proximidade do Planalto não serviu para nada.
Se debate tivesse grande influência sobre as urnas, Cabral estaria rindo pelas esquinas. Sempre que abriu a boca teve habilidade para manter-se no específico, como se tivesse um programa de governo, o que literalmente é falso. Tem idéias.
No final, a juíza reservou-se ao discurso patético. Misturou violência do Rio de Janeiro com apelo ao voto feminino. “Perdemos nossos filhos”, disse, ainda que nunca os tenha tido. “Nossos maridos”, idem, “e estou sozinha aqui no meio de quatro homens”, o que não quer dizer absolutamente nada. Uma pena.
Cabral conseguiu descolar-se até do governo do casal dono de uma falência administrativa que o apadrinha. E nem precisou explicar por que seu partido permitiu que os Garotinho transformassem o estado no muquifo que ele mesmo diz que é. Parecia jogo de time da primeira divisão contra seleção de várzea.

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