07 março 2008

A barbárie em Gaza e a arrogância em Madri - Mauro Santayana

A barbárie em Gaza e a arrogância em Madri

Mauro Santayana

JB ONLINE


Enquanto a revista Forbes divulga a nova lista dos grandes bilionários do mundo, várias organizações filantrópicas internacionais, de reputação comprovada, nos dão conta do que está ocorrendo na Faixa de Gaza. Segundo o relatório da Anistia Internacional, da Christian Aid e da Save the Children, sob o título de A implosão humana, Israel converteu a pequena área - de apenas 363 quilômetros quadrados - onde se amontoam mais de 1,5 milhão de palestinos, em campo de extermínio. Sem a água potável necessária, com a energia elétrica cortada, sem combustíveis, sem alimentos suficientes e sem remédios, o desemprego atingindo 40% da população, e a indústria reduzida a 10% de sua capacidade, em conseqüência do bloqueio israelense, os palestinos estão sendo dizimados pouco a pouco. Até mesmo a distribuição de comida pela ONU está prejudicada pelo bloqueio. Nem mesmo a alta taxa de natalidade - uma astúcia contra o genocídio - lhes serve de esperança.
A partir de 1948, a organização das Nações Unidas para os refugiados instalou em Gaza um campo para os árabes e palestinos expulsos de suas casas no território entregue pelos aliados a Israel. O mínimo que se poderia esperar dos vencedores da guerra seria dar aos espoliados de seu território histórico a oportunidade de uma vida igual à que conheciam antes da criação do Estado de Israel, mas lhes destinaram o inferno. A concentração demográfica é das mais altas do mundo (3.581 habitantes por quilômetro quadrado) e a agricultura, em áreas reduzidíssimas, continua sendo a principal ocupação dos ali depositados.
O mundo está salpicado de áreas como a faixa de Gaza - embora ela seja a mais antiga de nossos tempos. Nelas, a pretexto da segurança dos fortes, os débeis são contidos por muros, arame farpado, vigilância eletrônica. E quando - como ocorre em Gaza - as vítimas reagem, atirando contra os sitiadores com armas improvisadas, a reação é desproporcionada. Por cidadão israelense morto pelos mísseis de quintal disparados em Gaza, matam centenas de palestinos, como ocorreu nos últimos dias. Os mísseis fizeram um morto em Sderot - e mais de 100 palestinos pereceram nos ataques judeus a Gaza. Era assim que agiam os nazistas na Europa ocupada, com uma diferença: ao recolher, aleatoriamente, nas ruas, os que pagariam pelos atentados a suas tropas, os alemães poupavam as crianças, embora não as poupassem quando arrasavam localidades como Oradour. A retaliação judaica é indiscriminada, e muitos dos mortos em Gaza são crianças, que nada sabem do mundo e nele não encontram a vida para a qual vieram, mas a fome, a tristeza, a morte. O relatório faz referência ao estresse permanente a que elas estão sujeitas, mas dessa tensão não escapam os adultos e os idosos. Alguns ali viviam antes de 1948, mas a maioria nasceu e envelheceu nas tendas e nas cubatas de alvenaria de Gaza - sem direito a um dia de paz, a uma primavera de alegria, a uma tarde de memórias felizes, antes da morte, que ali chega de repente, mas sem surpresas.
É hora de reagir
O Itamaraty está exigindo dos espanhóis que tratem com respeito os brasileiros que usam o aeroporto de Barajas, como porta de entrada da Europa. Não se trata apenas de negar a entrada no país - e à União Européia - daqueles que arbitrariamente considerem indesejáveis, mas da humilhação e da ofensa a que são submetidos os brasileiros, tratados como delinqüentes vulgares. As jovens são particularmente insultadas, como se fossem prostitutas à procura do mercado europeu. Em outros tempos, eles acorriam ao nosso país em busca do pão que lhes faltava em casa, e eram acolhidos pelos brasileiros pobres com respeito. A prosperidade de hoje não lhes confere o direito à arrogância.
Informa-se que o governo brasileiro irá iniciar operação de limpeza nas praias do litoral - a fim de expulsar, sumariamente, os europeus que ali vivem de explorar o jogo clandestino, o trabalho mal remunerado dos brasileiros e a prostituição. Há também os que se encontram ilegalmente explorando várias atividades comerciais. A mesma providência será tomada nas grandes metrópoles, onde quadrilhas de fora participam do crime organizado. Pouco importa se se trata de mafiosos ricos ou não, donos de hotéis luxuosos ou tendinhas de praia.
E, sem prejuízo dessa operação, devemos negar a entrada em nosso território - e aleatoriamente como fazem - de europeus procedentes dos países que discriminam brasileiros. Não se trata de agir com a mesma grosseria com que atuam. Basta negar-lhes a entrada, de forma cortês, e devolvê-los a seus países, sem explicações, como eles fazem.
No momento que um cidadão brasileiro é humilhado, é a toda a nação que humilham.
[ 07/03/2008 ] 02:01


http://jbonline.terra.com.br/editorias/pais/papel/2008/03/07/pais20080307000.html

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